Na África, a reciclagem de alumínio revela um aspecto complexo e multifacetado entre o passado colonial e a produção da cultura material contemporânea.
Embora o alumínio já fosse encontrado em pequena escala em objetos rituais desde o século XIX, durante o período colonial o continente africano foi inundado com uma variedade de produtos e resíduos metálicos como as panelas de alumínio, que substituíram as de ferro. Por sua leveza e durabilidade, o alumínio foi reconhecido quase que imediatamente por ferreiros, ornamentadores e ourives como o metal ideal para fins de reciclagem.
Ao invés do descarte, o alumínio é derretido facilmente (660°C), comparado a prata (961°C) ou o ferro (1550°C), e transformado em utensílios, adornos e objetos de design que fazem parte do cotidiano africano.
Na África Ocidental, os ashante utilizam o alumínio para cobrir os tronos de lideranças, no Mali, para confeccionar máscaras, e no deserto, os mouros e tamacheques utilizam-no em joias fundidas. Especialmente na África Oriental, entre o sul da Etiópia e do Sudão, passando pelo Quênia, até regiões da Tanzânia, o alumínio é o adorno metálico mais importante. Uma das principais razões é o preço, que é muito inferior ao da prata, e que o torna também o metal mais acessível e democrático.
Além de ser utilizado na fabricação de objetos, o alumínio também desempenha um papel importante como material de reparo, especialmente em equipamentos de madeira, cabaça ou couro danificados ou quebrados. Tudo é feito de forma cuidadosa e artística, e em muitos casos o objeto pós-reparo se torna mais bonito que o original. Transformar os resquícios do colonialismo, reinventando e enriquecendo a própria cultura material é um reflexo não apenas de inovação e resiliência das comunidades locais, mas também da persistência de legados históricos que continuam a moldar a vida cotidiana no continente.
Referencia: RUIJTER, Rudolf de, Aluminium Adorned, Heerenveen, Holanda, 2010.